terça-feira, 8 de dezembro de 2009

para poder levantar um capital moral, pra você poder gastar na apreciação que as pessoas fazem do seu valor, você tem que, no minimo, ter um emprego. E então trabalha e ganha o status de útil, competente, capacitado e de normal. De outra forma todos esses que não lhe são invisiveis te pressionam, e essa pressão vai te empurrar para a margem ou te deixar de um jeito no qual só vai sentir a culpa por não ser útil e por ser fraco, por se encontrar nessa situação.
Um culto ao sacrifício, a utilidade, talvez ao sucesso. E um desprezo muito grande ao tempo que Deus nos da pra viver aqui na terra.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

fomos inundados de todo tipo de significação e recursos sinestésicos para darmos direção a expressão de qualquer tipo, em resumo ta tudo uma bagunça. Me sinto mal por estar aqui, velho, escrevendo algo como se fosse um manifesto ao invés de só continuar fazendo as coisas. Mas na medida que nossa percepção e raciocínio vão estreitando as possibilidades do que pode ser bom ou no mínimo considerado uma saída, acho que resta a nós, pelo menos a esta geração desconstruir, descontinuar, os meios materiais de comunicação que ai estão. Nos cabe somente articular algo que seja outra coisa, não só como opção, mas uma outra coisa que corroa a que ai está... Não importa a mensagem, o que precisamos é do (de um) espaço da (para a) polifonia. Já seria alguma coisa grande.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Maniqueismo aceitável

Ela estava num quartinho sujo do apartamendo da amiga com cartelinhas de analgésico, a garganta estava arranhada por uma noite sem pergunta, um olhar pesado de satisfação.

A dor de cabeça passando e o estômago aceitando comida de novo a medida que anoitecia lhe despertavam a vontade de fazer aquilo tudo que ela fez ontem, aquilo tudo que ela jurou não fazer pelo menos na próxima semana, que já parecia fazer um mês...
Desceu do quarto e encontrou as pessoas que queria no lugar que esperava, com uma vontade de gozar que lhe munia de desculpas pra todas as decisões convencidamente estúpidas que se seguiriam...
Sentada no bar, bebendo, com as luzes perfeitas. Viu-se intorrompida pela porta larga que deixou entrar uma mulher, morena, enrugada, cabelo sujo, querendo conversar com qualquer um qualquer coisa.
Díficil - pensou a protagonista arrancando uma espécie esquisita de empatia la do fundo, justo num cenário em que ela ansiava ser blasé com tanto prazer...

O mau cheiro que vinha da boca escura se aproximou, o olhar que tinha jogada pra senhora no momento em que ela passou pela porta despertou nesta uma raiva, uma segurança e o direito de cobrar toda aquela atenção que a deixou em evidência no meio de todos, segundo antes de ser solenemente e completamente ignorada pelos os delineadores e maquiagens do boteco, da forma mais paulistana possível.

A velha gritou, puxou-a pela mão e o resto da educação cristã dada a menininha pela sua mãe controlou qualquer vontade que tenha surgido de empurra-la.
Pagou uma cerveja e um salgado como clemência para que o estorvo, que há pouquinho era digno de amor fraterno, fosse embora.
Passado isso, pode euforica e esquisofrenicamente voltar a gozar.

terça-feira, 19 de maio de 2009

resenha de rock punk

Foi uma tarde bem ensolarada, de um final de semana frio, pra começar descrevendo com um clichê que o acontecido, que aqui vai ser contado, mereceu ter.
As 3 da tarde, num parque em Sorocaba, começou-se a descarregar amplificadores, bateria, guitarras, baixos e dois geradores movidos à gasolina dos porta-malas. No meio da grama ao lado da pista de skate foi montado tudo e um menino perguntava se alguma banda iria tocar algum som punk do guns’n roses...
Mais amigos foram chegando, sentando na grama, esperando o som começar, comemorando ao ver os geradores pegarem no tranco, e compartilhando um pouco da preocupação de que aquela apresentação, não oficial dentro da virada cultural de Sorocaba, poderia ser interrompida a qualquer momento pela polícia.
Mas de repente lá estava o Ari, vocalista da Encore Break, contra o sol, cantando as primeiras músicas e iniciando uma coisa que parte dos que estavam lá esperaram alguns anos pra ver acontecer. A idéia é simples, mas todo esse tempo nunca sobrou dinheiro, foi preciso esperar para que se encontrassem as vontades e a maneira simples de se pensar de cada um que estava ali ajudando.
Enquanto ia passando a apreensão do início, o folk rock da Encore foi embalando a bela visão dos moleques sentados na borda da pista, das pessoas que paravam no meio do caminho que levava ao show do Jorge Aragão, pra ouvir músicas que, se não fosse naquela ocasião, dificilmente poderiam ouvir, não só pela falta de interesse dessas pessoas pelo rock ou pelos músicos da própria cidade, mas também pelo paradigma da “cena” dos barzinhos que, mesmo impossível de viver sem, acaba recebendo sempre o mesmo público e prendendo as bandas num estranho estado de semi-reconhecimento.
Logo depois das belas melodias do Encore Break a figura de Rodrigo Ricardo, sem voz, tomou os microfones e fez a melhor apresentação da Inventiva que já vi! Mesmo que os próprios devam discordar de mim. Todos haviam tocado três dias seguidos e não tinham dormido, da guitarra base não se ouvia quase nada e mesmo assim o punk groovado, completamente sarcástico e gritado, com letras cada vez mais ácidas, foi a sujeira que muitos olhos vidrados que não entendiam bem o que acontecia ali estavam esperando há muito tempo ouvir de uma banda de rock!
Ia anoitecendo, muitos ficaram sentados olhando, outros mesmo com pressa paravam pela curiosidade, muitos só pelo fato de ver uma bateria e amplificadores arrumados no meio do parque esperavam pra ver o que ia acontecer.
Quando eram 18h30 o Ini começou a se espalhar pela grama, ocupando o espaço que por maior que seja acaba se tornando pequeno. Sempre carregando com eles a idéia de que a catarse não é só a conseqüência de uma apresentação, mas é a apresentação em si, esparramaram pelo parque, mesmo com todas as dificuldades de um equipamento de som pequeno, suas músicas densas, pesadas, com melodias tão marcantes e intensas quanto a entrega deles próprios à própria música...
Se dizem que a cidade de Sorocaba é lugar de ótimas bandas, desse dia em diante ela pôde passar a ser também o lugar de boas idéias e de uma postura honesta e de pau durescência... Postura essa que é hoje uma das poucas maneiras que resta pra se fazer a música, poesia, arte ou escambau, num mundo engessado pelo excesso de informação e a vontade publicitária de ser conhecido antes mesmo de dizer alguma coisa.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Liberdade

Aos moldes mauricianos, resolvi fazer um post-enquete. Bom, se puderem, respondam nos comentários a essa pergunta.

O que é a Liberdade?

É uma pergunta bem abrangente e difícil, mas eu gostaria de ter pelo menos uma noção do que o pessoal pensa.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Qual é a repressão mais eficiente? Aquela que o dominador precisa derramar sangue pra manter o pessoal na linha ou aquela que o pessoal reproduz passivamente as idéias do dominador tendo a ilusão de ser plenamente livre?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O desl

O deslumbramento com o presente, com tudo que há, existe... O fluxo de serotonina liberado pela percepção de todos os nossos sentidos, a excitação desses sentidos causada pela percepção de suas próprias existências... A gratidão herdada de uma educação cristã, mas que se tem pela graça do agora... É, por mais que muitos digam o contrário, o suficiente pra querer o próximo presente, o seguinte agora, o suficiente pra justificar um cuidado demasiado com tudo o que vai se desfazer.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Há maneiras de interpretar as coisas. Da perspectiva de quem se senta "politicamente" na calçada a culpa é dos bem vestidos e vai ser sempre, para os bem vestidos esses vão ser sempre uns desocupados querendo chamar atenção...
E isso pode, e é provável que vá funcionar até a morte de cada um, pra cada um, e nunca se sabera quem estava certo. E o exemplo foi só um exemplo.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Parece que toda vez que eu vou ao supermercado eu vejo um produto diferente novo na seção de congelados. Porra, daqui a pouco ninguém mais vai saber cozinhar! Tempos atrás, pra comer um pão as pessoas tinham que comprar a farinha, o fermento, e os outros ingredientes - que eu não sei quais são - preparar a massa, deixar-lá descansar pra depois assar. E como se não bastasse a mordomia que a gente tem de comprar o pão já feito da padaria, inventaram o pão congelado: ora, pra quê perder todo esse tempo fazendo pão? Parece que ninguém mais tem tempo e nem saco pra fazer a própria comida; temos que recorrer a restaurantes - o que inclui o bandejão e os fastfoods -, ou a congelados sem-vergonha-e-sem-perda-de-tempo para acompanhar o ritmo do trabalho.

Comer é uma das necessidades mais primordiais do homem e parece que saber cozinhar vem se tornando uma habilidade cada vez mais rara.
- Pra quê saber cozinhar se eu posso pagar pra comer?

quarta-feira, 4 de março de 2009

Poesia

Por favor, se puder, responda nos comentários a pergunta:
Importa pra sua leitura algo ser chamda de poesia ou não?
eu sei que é uma pergunta meio abrangente, mas enfim, responde ae se der
valeu

sábado, 28 de fevereiro de 2009

O mau-mocismo

O Bom-moço já era.
Agora o que tá na moda é ser Mau-moço.

Parece que aquele bom rapaz já não é visto com bons olhos nos dias de hoje; casar virgem, não usar drogas e não falar palavrão são atributos de imbecis que não aproveitam a vida. Seguir aquele estereótipo de Bom-moço que a gente vê nos filmes mais antigos definitivamente está em desuso. O popular hoje é o cara que segue aquele padrãozinho do malvado que come todas as menininhas, é usuário de drogas e que o tempo todo se gaba das suas supostas ações-que-vão-contra-os-bons-costumes.

É claro que seguir padrõezinhos quaisquer não é uma das coisas mais inteligentes do mundo...

Não existe vida após o expediente

Não existe vida após o expediente. Parece que a gente se esquece de que as horas de trabalho (ou de uma obrigação desagradável qualquer) também fazem parte da vida - e são também a própria vida.

Sei lá, parece que as pessoas dividem as suas vidas. O trabalho é o trabalho, a parte necessária que elas fazem porque são obrigadas e porque precisam botar arroz e feijão na mesa de casa. O tempo livre é o tempo onde as pessoas são "livres" e fazem o que bem entender dentro dos limites do relativismo. No tempo livre gasta-se o dinheiro ganho com o suor do trabalho: pode-se comprar um pacote conservador de viagens para toda minha família ou comprar alguns gramas de pó só para relaxar.

É foda, mas me parece que qualquer tentativa de burlar essa lógica vai ralo abaixo. Nem a loucura mais louca do nosso meio urbano escapa desta lógica. Aliás, acho que é bem comum as pessoas recorrerem a qualquer tipo de escapismo imbecil, só pra arranjar uma desculpa e poderem viver em paz consigo mesmas. As coisas estão tão lazarentas que o próprio escapismo virou mais uma mercadoria, que nos garante uma impotência cada vez maior.

E pra ganhar cada vez mais conforto e dar mais via para o escapismo, a gente se submete cada vez mais ao expediente. Esteja pronto pra limitar a sua vida pra poder sobreviver.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

As crianças brincam, correm e dançam pelos limites

Atravessam sem perceber da mesma maneira que os adultos se submetem

Aos limites da remuneração dessa confiança
uma mulher com os olhos fundos de maquiagem
sentada numa tartaruga de pelúcia
em um shopping caro
olhando para a luz que atravessa a cupula de vidro

vai se perguntar da vida
prontamente é atendida
e impedida por um funcionário
bem disposto e mal pago

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

- O que é que você ganha sendo responsável?
- Nada. Eu só perco a minha liberdade.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Não somente as possibilidades de produção de sons a partir delas e nem mesmo os seus signignficados, mas cada impressão que você procura em meio à disposição dessas frases, e onde elas se encontram (blog, site, tela) já lhe serviram pra fazer o julgamente do que esta pra ser dito e pra que deve servir esse texto. Sendo determinado antes de ser lido.
Tomara que sirva bem à essa sua auto-ajuda disfarçada de compreensão pois dessa vez não quis falar nada mesmo - ia dizer - mas ia ser mentira, só pra terminar fazendo graça.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

reescrevendo

"Vou pra onde eu quiser!" é o que se acostumou a dizer.
mas acho que o que da mesmo é só se equilibrar antes de cair, ou aguentar até onde alguém que eu não conheço deve ter aguentado.

Lá no fundo as tantas tragédias que já ouvismos falar. Das de tirar a vontade de comer.

Carne e Vontade
Vontade e o que nos mandam
e o que se precisa

nós amamos, ou prendemos
ou não reajimos ou jogamos nossa empatia fora
ou nos jogamos.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O grande mote da cena underground sempre foi o de fazer música sem diretrizes mercadológicas impostas pelas gravadoras da grande indústria cultural. Ela se propunha a fazer arte nua e crua, que fosse oriunda do próprio artista e não guiados por um interesse externo; ela queria mostrar a independência e atitude no fazer artístico sob a égide do do it yourself.
O que vemos hoje é o contrário disso. O underground virou um grande negócio. Aquelas bandas indies que ainda não sucumbiram às tentações do mainstream seguem à risca uma cartilha de como fazer o som independente. O independente que se opunha a todos os tipos de estilização e classificação de mercado cai naquilo que se opõe. Surge, então, o estilo do não-estilo. Tudo que é igual por tentar ser diferente é jogado neste rótulo.

Resta apenas um bando de gente nostálgica utopiando em vão a volta e a recuperação daquela antiga perspectiva. Eles tentam ingenuamente sair das amarras dos estilos, ainda buscam uma música autêntica. Mas, na busca por espaço, o máximo que conseguem é uma inclusão ainda maior no mundo mercadológico. O underground agora é todo reunido no myspace esperando algum sucesso bater à porta.
Por outro lado, essa mania de independência traz outras consequências. Hoje é muito fácil dizer que é punk, arrotar o nome de um monte de bandas que seguem tal rótulo. É muito fácil dizer que é independente e seguir uma fórmula feita pra fazer música. Ser Punk e/ou Indie é só um meio pra parecer descolado e legal na rodinha.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Se a arte tinha algum caráter emancipador, ela o perdeu. Hoje ninguém mais aprecia a arte: no máximo, gosta ou acha bacaninha.

Ir a um cinema, ir a um concerto, ou a uma exposição tornaram-se apenas fetiche e distração pro pessoal. Tá, um ou outro ae que está lendo isso pode estar pensando: "mas e aquelas obras que fazem as pessoas refletirem e blábláblá...?". É triste dizer, mas até estas tem o seu público de carteirinha. E ter um público desses não é saudável; limita o alcance da obra e fecha ela numa caixinha rotulada ridícula. O público e o autor acabam procurando por um rótulo. E a grande jogada de marketing da imbecilização das pessoas fez do não-rótulo também um novo rótulo. Os artistas que iam contra a estilização e rótulos e que promoviam relfexão acabam traídos.
Agora as pessoas escolhem gostar de certos estilos de arte: alguns atores, alguns diretores, alguns músicos, guitarristas, artistas plásticos, arquitetos... Mas fazem isso para tentar demonstrar plena autonomia nas escolhas e na sua construção da sua identidade... e quem sabe pra pagar uma de cult.
É um beco sem saída: a arte foi esterilizada e se tornou mero espetáculo. Mais do que isso, o gosto artístico é só um meio pras produtoras ganharem dinheiro e pra seres humanos se limitarem cada vez mais.