sábado, 3 de janeiro de 2009

Se a arte tinha algum caráter emancipador, ela o perdeu. Hoje ninguém mais aprecia a arte: no máximo, gosta ou acha bacaninha.

Ir a um cinema, ir a um concerto, ou a uma exposição tornaram-se apenas fetiche e distração pro pessoal. Tá, um ou outro ae que está lendo isso pode estar pensando: "mas e aquelas obras que fazem as pessoas refletirem e blábláblá...?". É triste dizer, mas até estas tem o seu público de carteirinha. E ter um público desses não é saudável; limita o alcance da obra e fecha ela numa caixinha rotulada ridícula. O público e o autor acabam procurando por um rótulo. E a grande jogada de marketing da imbecilização das pessoas fez do não-rótulo também um novo rótulo. Os artistas que iam contra a estilização e rótulos e que promoviam relfexão acabam traídos.
Agora as pessoas escolhem gostar de certos estilos de arte: alguns atores, alguns diretores, alguns músicos, guitarristas, artistas plásticos, arquitetos... Mas fazem isso para tentar demonstrar plena autonomia nas escolhas e na sua construção da sua identidade... e quem sabe pra pagar uma de cult.
É um beco sem saída: a arte foi esterilizada e se tornou mero espetáculo. Mais do que isso, o gosto artístico é só um meio pras produtoras ganharem dinheiro e pra seres humanos se limitarem cada vez mais.

4 comentários:

shaize disse...

Até que fim outro postou

Só o Mauricio... o cara acaba se achando o dono dos maluco cor de rosa

Harry disse...

Só há uma solução:

Ouvir shakira e leonard cohen.

Anônimo disse...

olha só quanta infelicidade...
o cinema, hoje, tem sido o 'antro cultural' mais acessível às pessoas. Isso porque, na maioria, está nos shoppings e não é TÃO caro.
Problema é (são) que o cinema não é tão barato, só parece ser porque os outros programas é que são caros ou, como já ouvi por aí "chatos". Quer dizer, vá você pagar uma inteira... uma empregada doméstica ou um lixeiro podem ser assalariados mas isso não quer dizer que estejam esbanjando dinheiro a ponto de ir ao cinema aos finais de semana com a 'PATROA E AS CRIANÇAS' e chegar em casa e mandar a galera dormir porque não rola comida na mesa... exagero.. mas quem sabe não tão longe do real?
SEM CONTAR o fato de... o que chega aos cinemas do shopping não varia muito daquilo que passa no SBT ou na REDE BOBO tipo depois de um 'vale a pena ver OUTRA VEZ' e tal... quer dizer, não há estímulos pra se ir ao cinema e a tv não ajuda, apresentando filmes inseridos numa espécie de padrão e 'acostumando' as pessoas ao que é medíocre.
As casas de cinema mesmo, que exibem filmes diferentes são frequentadas por um mesmo tipo de pessoas, na maioria. Algumas pra pagar de intelectual, outras porque gostam.. enfim, eu acho que são muitos os motivos que levam as pessoas a irem num HSBC Belas Artes e não a um CINEMARK ABC PLAZA, mas o que infelicita mais é aquela molecada que acha que é super Cult mas não gosta de falar pra "pessoas menos intelectuais" o que assistiram, pra cada vez menos gente conhecer e tal e só os cool de verdade saberem e serem fodas.
Outra coisa é que não há, na mídia, em horario 'para massas' nenhum estímulo a ir à Pinacoteca, Museu da Língua Portuguesa, MASP, Museu do Ipiranga... essas coisas viram 'programas de excursão escolar' mas não viram programa em família. E na verdade, ao menos para a Pinacoteca, em dias de semana a entrada é FRANCA, mas quem disse que isso adianta? Pois é... alguém aí concorda com os CULT...

Harry disse...

Mas agora é sério.

Se há uma solução para este problema da arte, ele reside na extrapolação dos espaços reservados à arte.

Se a produção do cinema, da música e da literatura estão dominadas pela orientação mercadológica, e se seu "consumo" (uma vez que estão dominadas pela orientação mercadológica) orientado por jogos sociais, uma arte autêntica emergiria de um espaço artístico não-tradicional mais amplo, de preferencia, absolutamente amplo. Este espaço, seria a própria vida.

Tá, sei que isso pareceu romântico demais, mas o problema está na dualidade, na tensão permanente entre a estética e a “instrumentalidade” (em um sentido não tãaaao amplo da instrumentalidade).
Os espaços institucionais da arte são como válvulas de escape de um impulso estético e, ao mesmo tempo, o espaço de preservação e reprodução destes. Vivemos pela ficção os impulsos estéticos que não podemos viver em nossa vida. Me parece absolutamente compreensível que isso ocorra. Por exemplo, queima-se uma casa no campo em um romance byronista como um ritual de desprendimento do passado porque o autor não pode queimar o seu quarto de pensão no centro da cidade. Fazê-lo poria em risco a vida de muita gente, perturbaria uma certa ordem mínima necessária para se viver com segurança.
O problema em que nos encontramos é esse avanço da “instrumentalidade” sobre os impulsos estéticos, empurrando-os quase completamente para espaços ficcionais. E a dominação da “instrumentalidade” sobre tais espaços, de modo que eles existem e são mantidos em sua grande maioria (se tomarmos o critério financeiro e é isso que faremos) para gerar lucro, são mantidos por um motivo “instrumental”.

Mas não gosto de usar o termo “instrumental” desta maneira, pois a arte é também instrumental. Realizar impulsos estéticos é também um fim que necessita de um meio para sua realização, seja ficcional ou não. Então preferiria redefinir a tensão entre a estética e a instrumentalidade como a tensão entre a estética e a ordem, a segurança, o conforto. Estes foram, me parece, absolutamente imprescindíveis para que a humanidade em algum momento pudesse desenvolver impulsos estéticos, uma vez que os impulsos básicos de sobrevivência estivessem saciados.
Mas aconteceu do meio tornar-se fim de tal maneira que impossibilita cada vez mais o seu fim primeiro. (Por favor, não pensem que estou defendendo um sentido primeiro das coisas. Mas em mim há estes impulsos deste primeiro fim que lutam por retomar terreno, impulsos que só foram passiveis de existir em mim em parte pela função de reserva dos espaços ficcionais, em parte pela instrumentalidade da manutenção da minha vida que possibilitou ócio para desenvolver estes impulsos).

Há de se perceber então que a ficção também é instrumental na medida em que é produzida como realização imediata de um impulso, mas também como manutenção mediada dos impulsos estéticos no mundo e mesmo como frente de assalto, como forma de retomar terreno sobre a “instrumentalidade”, a “vida prática”.

Para concluir, e enfiar desordenadamente mais um parecer sobre o assunto, que me parece muito mais fundamental mas que agora vai ser dito no fim mesmo:
Considero impulsos estéticos todos os relacionados ao prazer e desprazer, de modo que a satisfação das necessidades básicas da vida são também de natureza estética, assim como toda relação imediata com o mundo exterior.
O que uso, de maneira arbitrária e instrumental, como critério que separa o humano dos outros animais, o que coloco na essência (artificial) e definição da qualidade humana é o fato de preservarmos a vida como meio de desfrutar impulsos estéticos, ao contrário dos animais “irracionais”, os quais os impulsos estéticos, o prazer e desprazer, permitiu que preservassem a vida, tal qual nós fizemos antes de deixarmos de ser simples homo sapiens e nos tornarmos humanos.