sexta-feira, 22 de maio de 2009

Maniqueismo aceitável

Ela estava num quartinho sujo do apartamendo da amiga com cartelinhas de analgésico, a garganta estava arranhada por uma noite sem pergunta, um olhar pesado de satisfação.

A dor de cabeça passando e o estômago aceitando comida de novo a medida que anoitecia lhe despertavam a vontade de fazer aquilo tudo que ela fez ontem, aquilo tudo que ela jurou não fazer pelo menos na próxima semana, que já parecia fazer um mês...
Desceu do quarto e encontrou as pessoas que queria no lugar que esperava, com uma vontade de gozar que lhe munia de desculpas pra todas as decisões convencidamente estúpidas que se seguiriam...
Sentada no bar, bebendo, com as luzes perfeitas. Viu-se intorrompida pela porta larga que deixou entrar uma mulher, morena, enrugada, cabelo sujo, querendo conversar com qualquer um qualquer coisa.
Díficil - pensou a protagonista arrancando uma espécie esquisita de empatia la do fundo, justo num cenário em que ela ansiava ser blasé com tanto prazer...

O mau cheiro que vinha da boca escura se aproximou, o olhar que tinha jogada pra senhora no momento em que ela passou pela porta despertou nesta uma raiva, uma segurança e o direito de cobrar toda aquela atenção que a deixou em evidência no meio de todos, segundo antes de ser solenemente e completamente ignorada pelos os delineadores e maquiagens do boteco, da forma mais paulistana possível.

A velha gritou, puxou-a pela mão e o resto da educação cristã dada a menininha pela sua mãe controlou qualquer vontade que tenha surgido de empurra-la.
Pagou uma cerveja e um salgado como clemência para que o estorvo, que há pouquinho era digno de amor fraterno, fosse embora.
Passado isso, pode euforica e esquisofrenicamente voltar a gozar.

terça-feira, 19 de maio de 2009

resenha de rock punk

Foi uma tarde bem ensolarada, de um final de semana frio, pra começar descrevendo com um clichê que o acontecido, que aqui vai ser contado, mereceu ter.
As 3 da tarde, num parque em Sorocaba, começou-se a descarregar amplificadores, bateria, guitarras, baixos e dois geradores movidos à gasolina dos porta-malas. No meio da grama ao lado da pista de skate foi montado tudo e um menino perguntava se alguma banda iria tocar algum som punk do guns’n roses...
Mais amigos foram chegando, sentando na grama, esperando o som começar, comemorando ao ver os geradores pegarem no tranco, e compartilhando um pouco da preocupação de que aquela apresentação, não oficial dentro da virada cultural de Sorocaba, poderia ser interrompida a qualquer momento pela polícia.
Mas de repente lá estava o Ari, vocalista da Encore Break, contra o sol, cantando as primeiras músicas e iniciando uma coisa que parte dos que estavam lá esperaram alguns anos pra ver acontecer. A idéia é simples, mas todo esse tempo nunca sobrou dinheiro, foi preciso esperar para que se encontrassem as vontades e a maneira simples de se pensar de cada um que estava ali ajudando.
Enquanto ia passando a apreensão do início, o folk rock da Encore foi embalando a bela visão dos moleques sentados na borda da pista, das pessoas que paravam no meio do caminho que levava ao show do Jorge Aragão, pra ouvir músicas que, se não fosse naquela ocasião, dificilmente poderiam ouvir, não só pela falta de interesse dessas pessoas pelo rock ou pelos músicos da própria cidade, mas também pelo paradigma da “cena” dos barzinhos que, mesmo impossível de viver sem, acaba recebendo sempre o mesmo público e prendendo as bandas num estranho estado de semi-reconhecimento.
Logo depois das belas melodias do Encore Break a figura de Rodrigo Ricardo, sem voz, tomou os microfones e fez a melhor apresentação da Inventiva que já vi! Mesmo que os próprios devam discordar de mim. Todos haviam tocado três dias seguidos e não tinham dormido, da guitarra base não se ouvia quase nada e mesmo assim o punk groovado, completamente sarcástico e gritado, com letras cada vez mais ácidas, foi a sujeira que muitos olhos vidrados que não entendiam bem o que acontecia ali estavam esperando há muito tempo ouvir de uma banda de rock!
Ia anoitecendo, muitos ficaram sentados olhando, outros mesmo com pressa paravam pela curiosidade, muitos só pelo fato de ver uma bateria e amplificadores arrumados no meio do parque esperavam pra ver o que ia acontecer.
Quando eram 18h30 o Ini começou a se espalhar pela grama, ocupando o espaço que por maior que seja acaba se tornando pequeno. Sempre carregando com eles a idéia de que a catarse não é só a conseqüência de uma apresentação, mas é a apresentação em si, esparramaram pelo parque, mesmo com todas as dificuldades de um equipamento de som pequeno, suas músicas densas, pesadas, com melodias tão marcantes e intensas quanto a entrega deles próprios à própria música...
Se dizem que a cidade de Sorocaba é lugar de ótimas bandas, desse dia em diante ela pôde passar a ser também o lugar de boas idéias e de uma postura honesta e de pau durescência... Postura essa que é hoje uma das poucas maneiras que resta pra se fazer a música, poesia, arte ou escambau, num mundo engessado pelo excesso de informação e a vontade publicitária de ser conhecido antes mesmo de dizer alguma coisa.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Liberdade

Aos moldes mauricianos, resolvi fazer um post-enquete. Bom, se puderem, respondam nos comentários a essa pergunta.

O que é a Liberdade?

É uma pergunta bem abrangente e difícil, mas eu gostaria de ter pelo menos uma noção do que o pessoal pensa.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Qual é a repressão mais eficiente? Aquela que o dominador precisa derramar sangue pra manter o pessoal na linha ou aquela que o pessoal reproduz passivamente as idéias do dominador tendo a ilusão de ser plenamente livre?