sábado, 28 de fevereiro de 2009

Não existe vida após o expediente

Não existe vida após o expediente. Parece que a gente se esquece de que as horas de trabalho (ou de uma obrigação desagradável qualquer) também fazem parte da vida - e são também a própria vida.

Sei lá, parece que as pessoas dividem as suas vidas. O trabalho é o trabalho, a parte necessária que elas fazem porque são obrigadas e porque precisam botar arroz e feijão na mesa de casa. O tempo livre é o tempo onde as pessoas são "livres" e fazem o que bem entender dentro dos limites do relativismo. No tempo livre gasta-se o dinheiro ganho com o suor do trabalho: pode-se comprar um pacote conservador de viagens para toda minha família ou comprar alguns gramas de pó só para relaxar.

É foda, mas me parece que qualquer tentativa de burlar essa lógica vai ralo abaixo. Nem a loucura mais louca do nosso meio urbano escapa desta lógica. Aliás, acho que é bem comum as pessoas recorrerem a qualquer tipo de escapismo imbecil, só pra arranjar uma desculpa e poderem viver em paz consigo mesmas. As coisas estão tão lazarentas que o próprio escapismo virou mais uma mercadoria, que nos garante uma impotência cada vez maior.

E pra ganhar cada vez mais conforto e dar mais via para o escapismo, a gente se submete cada vez mais ao expediente. Esteja pronto pra limitar a sua vida pra poder sobreviver.

3 comentários:

Fernando Mekaru disse...

Ehr, mas acho que sempre foi assim, não?

Pelo menos pra mim, o discurso libertário é um grande mistério - fala-se de retomar uma liberdade perdida com a ascensão do pensamento totalitário e/ou conservador no decorrer do século XX, mas não me lembro de nenhum momento histórico no qual os seres humanos estiveram plenamente livres das responsabilidades derivadas de sua organização que não seja o anarco-primitivismo dos nômades pré-escrita e pré-agricultura. E mesmo assim, eles abriam mão de certas liberdades para poderem sobreviver.

Sempre que esse debate da perda da liberdade nos dias de hoje surge, não consigo deixar de pensar nos séculos anteriores ao XX - e porra, em nenhum deles temos maior ou menor liberdade do que temos hoje.

(uhu, não perdi meu talento pra digressões intelectualóides!)

Paulo Yamawake disse...

Acho que o grande ponto disso tudo é a perpectiva onde isso se encaixa. O homem sempre teve que trabalhar pra garantir a sobrevivência material - vide véio barbudo -, mas a grande diferença é como as pessoas enxergam o trabalho.
Sei lá, tenho a impressão de que o pessoal dos séculos anteriores ao XIX viam o trabalho como uma forma de redenção meio que religiosa/mitológica, seja pra servir o filho dos deuses que está no poder, seja pra seguir aquela ética protestante.
Hoje, me parece que o trabalho serve exclusivamente para garantir a vida e o estabilidade material. Foda-se o seu emprego, o que vale é ter um pagamento maomeno no fim do mês, pra podermos usufruir nossa "vida real".

(putz Meks, acho que não te respondi e ainda tive que citar... =/)

Anônimo disse...

Ter limites pra sobreviver sempre foi algo com que as mulheres tiveram que aceitar, seja em maior ou menor dimensões. Não falo só das físicas, mas sociais e psicológicas: algumas vezes usadas ao favor e não contra, mas se for comparar... bem algumas vezes. O que eu to dizendo parece que puxa a sardinha, tipo um 'olha soh como a gente se fodeu por causa desse mundo machista' mas sei lá, a união faz a força e uma coisa que as mulheres não têm é UNIÃO (salvo momentos de briga por homem e alguns outros poucos).
Mas o que acontece é que o homem, conforme a mulher foi ganhando espaço, ele foi deixando de garantir o seu próprio. Não que seja pequeno agora, mas diminuiu, uma vez que nós também temos vontade, algumas de nós prefere pensar e coisa e tal.
Mas eu sei lá, se pah desviei do assunto e agora não vou saber como voltar até a linha que comecei - TENTEI começar. >(